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Espelho de ver por dentro
O percurso teatral de Alves Redol

espelhoverdentroEm consonância com o projecto, referido em Portugal ao neo-realismo, de contribuir para a educação do povo e para a tomada de consciência acerca do seu papel determinante na transformação do mundo, a criação dramática redoliana revela, todavia, de modo algo surpreendente, um dramaturgo empenhado na experimentação formal. De resto, a sua escrita beneficia dos referentes teóricos incessantemente procurados no teatro universal, bem como da sua própria experiência de participação em espectáculos. Trata-se, em geral, de um teatro que não quer confinar-se ao Realismo fotográfico, assumindo-se também como um espelho de ver por dentro. No Espólio teatral do escritor, a que esta investigação acedeu pela primeira vez no seu todo, foi possível recensear a dezena e meia de títulos de peças (entre textos completos, incompletos e esboços), que, a par das quatro peças publicadas, esta obra mobiliza. Para além da vertente da escrita, o estudo da ligação de Alves Redol ao teatro estende-se a outros campos da sua actividade, cujo conhecimento permite compreender esta personalidade multímoda, fortemente determinada, mas também condicionada, pelo contexto histórico em que viveu e criou. O tratamento do tema impôs à investigação, por um lado, uma revisitação do panorama sociocultural e artístico durante o regime salazarista (acrescentando dados particularmente úteis ao conhecimento da actividade desenvolvida sobretudo em contracorrente) e, por outro, a reequação da problemática neo-realista portuguesa, no que ao teatro especificamente diz respeito.