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Editorial
Este número – que inaugura o quinto ano da publicação da nossa revista - vem comprovar como o território do teatro é, afinal, um feixe de múltiplas relações vivas, na medida em que não se limita ao lugar do palco, antes se prolonga – ou antecipa – em muitas outras circunstâncias que modalizam a sua presença e a tornam rizomática. Disso mesmo é prova a amplitude das realidades que o júri da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro distinguiu este ano e que o Dossiê temático explicita: por um lado, contemplando uma actriz de carreira bem firmada como é Emília Silvestre, uma editora como a Cotovia (que tem publicada uma colecção apreciável de textos de teatro) e um projecto – Palcos novos / Palavras novas (PANOS) – que envolve escolas do ensino secundário; e, por outro lado, “repartindo” o Prémio entre um espectáculo sobre um texto canónico de uma companhia de longo e excelente fôlego artístico, como é o Teatro da Cornucópia, e uma outra bem mais recente – Primeiros Sintomas – que se afoitava por uma dramaturgia contemporânea de choque. Sinais, portanto, de caminhos cruzados que enriquecem o tecido cultural que o teatro inventa e a que a APCT quer estar atenta.
Pelo seu lado, também a academia vem permanentemente activando a análise, a discussão e o interesse por autores dramáticos e pelo teatro em geral através de publicações, conferências, teses ou programas de seminários e cadeiras, estabelecendo diálogos e criando vínculos que se posicionam antes e depois da realidade espectáculo. É o caso aqui, por exemplo, dos autores dramáticos que ocupam o Portefólio que Paulo Eduardo Carvalho apresenta e que corresponde a uma sequência que estudou em profundidade para a sua tese de doutoramento, bem como o texto, que ocupa o Arquivo solto, que decorre da tese de mestrado em Estudos de Teatro que Paula Magalhães apresentou à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Se as Notícias de fora nos transportam de Nova Iorque a Sheffield e a Tessalonica para nos falarem de realidades já consagradas, os Estudos aplicados – que decorrem de um colóquio organizado pelo Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa – centram-se em Harold Pinter propondo uma revisitação histórica e teórica à sua dramaturgia ancorada em três pontos geográficos bem distantes: Estados Unidos da América, Inglaterra e Brasil. Entretanto, os Passos em volta procuram trazer à discussão espectáculos que terão passado mais despercebidos à imprensa, revelando actuações sobretudo fora de Lisboa que comprovam a vitalidade de várias companhias que se distribuem por outros circuitos que não os mais engalanados ou de maior visibilidade.
Na entrevista a João Perry, ouvido Na primeira pessoa, sobressai o fulgor – contido e exigente – de um actor com uma carreira celebrada a falar do seu trajecto de vida e dos valores que defende na sua actuação, enquanto o Em rede, de Ana Bigotte Vieira, nos fala de novos rumos de uma cultura digital não apenas a reorganizar a arte, mas também a ditar comportamentos na vida. E é ainda em torno do cruzamento da vida com a arte, bem como do teatro com a literatura, a fotografia e o registo ou criação videográfica que as Leituras se tecem, não faltando – como é já norma do n.º de Junho - a lista de publicações que Sebastiana Fadda vem alinhando de forma exaustiva.
Mas neste looping de relações acesas a verdade é que regressamos sempre ao ponto incandescente que é o espectáculo: o que é, quem o faz e quem, ao vê-lo (ou ao fotografá-lo), também o – e se – vai fazendo. A eles ficamos a dever tudo isso, bem como o apoio generoso que nos vão prodigalizando com cedência de fotografias, esclarecimento de dúvidas e uma sempre amável solicitude que muito nos anima.
Por isso também nos move a vontade de corrigir o que por vezes desacertamos, pelo que aqui incluimos um “acerto de contas” para o qual escolhemos uma epígrafe da nossa maior afeição:
Es irrt der Mensh, so lang’ er strebt
(Erra o homem enquanto se esforça e procura)
(Goethe, Faust, “Prolog im Himmel”, v. 317)