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Entre os vários documentos preparatórios da “Reforma do Sistema Educativo”, sobressai a “Proposta de Reorganização dos Planos Curriculares dos Ensinos Básico e Secundário”, elaborada por uma comissão constituída por J. J. R. Fraústo da Silva (coordenador), Roberto Carneiro, Manuel Tavares Emídio e Eduardo Marçal Grilo. A Proposta, bem apresentada e enunciadora de grandes princípios sociais e éticos, é, apesar disso, perigosa. Perigosa porque afirma generalidades sob a aparência de opinião douta; perigosa porque transforma lugares comuns em verdades científicas; perigosa, ainda, porque afirma sem justificar e porque justifica sem precaução.
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Apreciamos, evidentemente, os grandes princípios morais, a afirmação da necessidade de desenvolvimento técnico, científico e económico ou da melhoria da qualidade de vida. Já que aderimos à CEE, devemos ser Europa Comunitária e consideramos que o nivelamento deve ser feito por cima. Só que, acentuando a tónica do sucesso, da modernidade, do progresso, da compreensão, a Proposta acaba por proteger a priori aquilo que afirma não pretender, isto é, a ausência de qualidade, de rigor, de nível científico.
O aluno formado no esquema proposto arrisca-se a ser um “generalista” relativamente ignorante e de intelecto preguiçoso, abúlico, com falhas graves de conhecimentos e com problemas de afirmação e definição. É este o momento de esclarecer que nem concordamos com o “sistema” em vigor nem achamos que tudo é mau na Proposta. Não calamos é os aspectos negativos, em particular aqueles que proporcionam um abandono dos valores culturais a favor de um pretenso tecnicismo já em desuso em países inspiradores da Proposta. E este desinteresse pelo investimento cultural — que fundamenta, de facto, a originalidade de um Povo — é particularmente sensível na área da Línguas e Culturas Clássicas. Apesar do “rebuçado” de uma variante de cultura clássica na área de Estudos Humanísticos, o Latim e, mais ainda, o Grego, saem particularmente maltratados. Há opções e a cultura é uma opção cara, sem cotação na Bolsa e sem anúncio de OPV. O analfabetismo velado da miopia cultural não pode justificar erros. Depois dos debates políticos, CLASSICA quer renovar o alerta tantas vezes repetido (...): é necessário desenvolver (não proteger como espécie em extinção) o estudo das línguas e culturas da Grécia e de Roma antigas, elementos primordiais do património comum ocidental (e, por isso, também português). O Latim é a basezinha que não deve ser espoliada do Grego. |
Victor J. Vieira Jabouille
Arnaldo M. Espírito Santo
Manuel dos Santos Rodrigues